Longe dos centros de poder, mas no centro de um país a viver tempos novos, marcados pela implantação da República e pela lei da Separação, as Aparições de Fátima fizeram acontecer em Ourém, e neste local, encontros que ficaram para a história, pelo confronto de ideais e concepções de vida, tanto pessoais como sociais.

Estava perto a quarta Aparição e a afluência de povo não parava de crescer… Pensando que tudo não passasse de uma grosseira manipulação do povo, por parte do clero e dos monárquicos, para enfraquecer a República, o Administrador entrou em cena disposto a pôr termo àquela “encenação”, denunciar a instrumentalização das crianças e repor a ordem pública.

Mas o fenómeno de Fátima mostrou-se bem mais complexo e, a presença de um “segredo”, tornou-o ainda mais intrigante, ao ponto de Artur de Oliveira Santos afirmar, em casa do pároco de Fátima: “Isto são coisas sobrenaturais, vamo-nos embora” (Documentação Crítica de Fátima [DCF] I, 2ª Ed., p. 252).

Contudo, o Administrador não desistiria. Por opções pessoais, dever de ofício e pressões ideológicas, embora não acreditasse nas Aparições e sobre elas não se lhe conheça qualquer pergunta feita aos Pastorinhos, não deixaria de lançar mão dos meios ao seu dispor para que elas lhe revelassem o “segredo”.

Desde o recurso à autoridade dos pais e do pároco, até ao tratamento afável em sua casa (DCF IV 3, p. 182-196), passando por ameaças e promessas nos vários interrogatórios (11 a 15 de Agosto de 1917) – de que Lúcia nos fala nas suas Memórias, mas que, infelizmente, da parte dos arquivos da Autarquia, nada nos chegou – de tudo se serviu para conseguir a confissão das crianças.

E não o conseguiu porque os Pastorinhos não estavam dispostos a trocar a beleza sublime da experiência vivida por nada deste mundo!

Padre Armindo Janeiro
Pároco da Paróquia de N.ª Sr.ª da Piedade